terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Afinal, para que tanta pressa?

Afinal, para que tanta pressa?

Francine Moreno
Lézio Júnior/Editoria de Arte


Você acorda cedo, toma café correndo, um banho apressado e percebe que mesmo assim está atrasado? Na sua empresa, muita pressão para entregar um relatório que era para estar pronto há algum tempo? Na hora do almoço, mal dá tempo de sentar e comer? Isso sem falar no resto do dia. Cuidado. Você pode estar sofrendo da doença da pressa. Termo usado pelos médicos para definir essa sensação intensa de que se está correndo contra o tempo, de que o dia com 24 horas não é suficiente, de que a vida está passando rápido demais. Costuma vir acompanhada de atrasos nos compromissos sociais, escolares, déficits de atenção e memória e desorganização. A falta de tempo, corre-corre diário e a necessidade de produzir mais em menos tempo adquiriram números tão altos que ganharam embasamento médico. Um estudo feito pela International Stress Management Association (Isma), entidade internacional que estuda o estresse, com mil brasileiros economicamente ativos, revelou que 30% deles sofriam da “doença da pressa”, apresentando sintomas físicos (hipertensão e problemas cardiovasculares); emocionais (angústia) e comportamentais (abuso do álcool).

“A síndrome acontece quando somos estimulados por circunstâncias da vida a alterar esses ritmos e está normalmente associada ao estresse e à ansiedade”, afirma o psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto, professor e supervisor clínico da USP. Para o psicólogo gestalt-terapeuta Hugo Ramón Barbosa Oddone, os sintomas mais comuns são as chamadas somatizações como pressão arterial muito alta, falta de ar, dores do tipo angina, enxaquecas, cefaléias, musculares e febres, e os sintomas psicológicos típicos como as diversas fobias, que, quando se tornam mais repetitivos e complexos, podem levar à síndrome de pânico e outras síndromes graves. “Algumas pessoas são alvos prediletos. São aquelas que trabalham em funções altamente competitivas por muito tempo, sem terem o tempo necessário para recuperar-se do estresse diário.”

É curioso notar que o sintoma mais comum, atualmente, nas crianças, é o fenômeno da hiperatividade. Segundo o psicólogo André Apolinario Silva Marinho, a hiperatividade reflete o jeito de ser de uma época, em que tudo tem de ser hiper. O diagnóstico é o excesso de estímulo e de movimento. “Não são algumas pessoas que sofrem da doença da pressa, é toda uma época, um momento histórico, a sociedade. Pensando desse ponto de vista, a loucura é estar na contramão disso tudo. As pessoas, quando param, sentem um vazio tão grande que imediatamente buscam algo para fazer. Isto ocorre porque estamos tão identificados com aquilo que fazemos que nos tornamos aquilo que fazemos.” Para combater a mania moderna de velocidade, o especialista Armando Ribeiro das Neves Neto afirma que desacelerar deve passar a ser a palavra de ordem. Em casa, no trabalho, nas relações e no ritmo interior, levar a vida com mais calma deve se transformar numa tendência comportamental diária.

“Identificar e modificar os pensamentos catastróficos é parte do tratamento. De forma mais simples, bons pensamentos atraem bons sentimentos e mesmo com um trabalho estressante você fica protegido dos efeitos negativos do estresse; já pensamentos distorcidos acentuam as reações do organismo, levando ao adoecimento físico e emocional.” Oddone sugere seguir o que Napoleão Bonaparte dizia ao valete que o ajudava a vestir-se: devagar que estou com pressa. “Influenciados pelo espírito francês, quanto mais pressa temos, mais impecáveis nos tornamos, ou seja, mais cuidadosos, mais lentos, vagarosos e sem perder a pró-atividade e a assertividade. Façamos as coisas bem acabadas para consiguir curtir o produto do nosso esforço”, afirma.

Gerencie agora seu estresse

No culto à vagareza, o psicólogo Armando Ribeiro das Neves Neto, professor e supervisor clínico da USP, defende desde uma alimentação sem pressa até andar de bicicleta. “Precisamos descondicionar a pressa. Aprenda a curtir um banho caprichado no final do dia, uma refeição saudável, a companhia de pessoas alegres e positivas. Procure novas experiências sensoriais, como novos restaurantes, refeições e viagens. Faça um diário para descrever e refletir sobre as experiência do dia. Faça atividade física regular, aproveite para passear com o cachorro, ou mesmo voltar a andar de bicicleta.” Para seguir um caminho num ritmo ainda mais tranquilo, é preciso aprender a respiração diafragmática. É uma estratégia fundamental para controlar o estresse físico e emocional, pensar com mais clareza e resolver os problemas reais da vida. “Quando já adoecemos por causa do estresse ou ansiedade é fundamental procurarmos ajuda especializada.

Os tratamentos, em geral, consistem em programas científicos baseados nas pesquisas médicas e psicológicas atuais sobre a avaliação e o tratamento dos sinais e sintomas do estresse, bem como na criação de projetos para a identificação e redução do estresse nas empresas, escolas e individualmente.” Para Neto, a prevenção da doença baseia-se nos programas de gerenciamento de estresse, que normalmente incluem: avaliação do nível e fase de estresse, informação científica sobre o estresse e os seus efeitos em nossa vida, técnicas de respiração e de relaxamento, autorregulação psicofisiológica por meio de modernos equipamentos de biofeedback, técnicas de meditação e/ou práticas corporais (ex. ioga, tai chi), atividade física regular, alimentação equilibrada e acupuntura energética.

SAIBA MAIS:

:: Além do cotidiano atribulado e sobrecarregado, também é preciso reconhecer que o equipamento estrutural da pessoa pode facilitar ou dificultar render-se à doença da pressa. Há pessoas com maior resistência, mais estruturadas para enfrentar longos embates com as exigências do mundo, e outras não

:: O deus mitológico representante do tempo é Cronos, e na sua história, ele é um pai que devora e mata seus próprios filhos. A pressa dos tempos atuais é um exemplo de como os paradigmas socioculturais orientam o nosso modo de ser, pensar e agir. Vivemos em um momento histórico no qual tudo deve ser feito com muita rapidez e eficiência

:: A doença da pressa normalmente é imperceptível ou invísivel para a maioria das pessoas, pois o ambiente de trabalho, escolar ou familiar acaba mascarando os sintomas do estresse e a sua prevenção. No trabalho pode ser responsável por baixa produtividade, faltas recorrentes; na escola pode representar baixo rendimento escolar, indisciplina, faltas e no ambiente familiar pode representar problemas conjugais, íntimos, entre pais e filhos etc.

:: Mãos e pés frios, boca seca, dor no estômago, aumento de suor, tensão e dor muscular são estados de alerta

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Cérebros favoráveis à depressão


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Pausa para respirar
Sílvia Rogar

Estudos de importantes centros de pesquisa em todo o mundo começam a medir o que já se sabia empiricamente: a prática cotidiana de exercícios respiratórios tem impacto positivo na saúde e no bem-estar, além de auxiliar no tratamento de diversas doenças.

Quadro: Os benefícios dos exercícios respiratórios
O cardiologista italiano Luciano Bernardi coordenou, há oito anos, um curioso estudo na Universidade de Pavia. O tema: a influência da ave-maria sobre o sistema cardiovascular. Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que a oração em latim, lida em voz alta, tinha efeito calmante sobre os fiéis. O que Bernardi e seus pares constataram foi que isso não tinha relação com a fé, e sim com o ritmo da respiração exigido pela métrica da oração. Para dizer cada frase inteira e respeitar os intervalos, é preciso baixar o número de inspirações e expirações para seis por minuto, um terço do ritmo normal. Esse ritmo respiratório mais lento reduz a frequência cardíaca e baixa a pressão arterial. Daí a sensação de calma. Data também do início dos anos 2000 uma série de outros estudos que procuram explicar e medir o efeito do controle da respiração sobre a saúde. Essa relação é conhecida empiricamente há milênios pela medicina oriental, mas só recentemente começou a ganhar status de assunto sério nos principais centros de pesquisa do mundo. Os resultados são animadores. A respiração controlada, em diversas modalidades, revela-se coadjuvante eficiente no tratamento de transtornos de ansiedade, de hipertensão e até de dores crônicas, em alguns casos permitindo reduzir expressivamente as doses de remédio.
O grande mérito dos estudos recentes sobre respiração é dimensionar seu poder de interferir no funcionamento do sistema nervoso autônomo. Esse sistema é dividido em dois: o simpático e o parassimpático. O primeiro prepara o corpo para enfrentar situações de perigo. Ao receberem um sinal de alerta, motivado por situação real ou imaginária, diversas áreas do cérebro entram em ação, desencadeando reações destinadas a enfrentar essa ameaça. Substâncias que contraem os vasos sanguíneos (como a adrenalina) são liberadas, provocando aceleração dos batimentos cardíacos e elevação da pressão arterial. Quando a ameaça sai de cena, o sistema parassimpático conduz o corpo de volta a seu estado normal. A respiração pode interferir nesse processo porque é a única das funções regidas pelo sistema nervoso autônomo que se pode controlar. Não é possível baixar ou elevar voluntariamente a temperatura corporal ou alterar a velocidade da circulação do sangue. Mas é perfeitamente possível alterar o ritmo da respiração. O que os médicos constataram é que, quando se respira lenta e profundamente, se envia ao cérebro uma mensagem tranquilizadora que ajuda a desarmar os sistemas de defesa. A respiração mais eficaz para isso é a diafragmática, semelhante à respiração dos bebês, que expandem o abdômen ao inspirar. Estudos do Laboratório de Pânico e Respiração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostram que 70% dos pacientes que sofrem de distúrbios de ansiedade conseguem diminuir em até 60% a dose de antidepressivos e ansiolíticos depois de seis meses. "Para quem sofre de pânico, o treinamento da respiração diafragmática é o primeiro passo para a resolução do problema sem medicamentos", diz o psiquiatra Geraldo Possendoro, professor de medicina comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Na esteira dessas constatações, nasceram e se multiplicaram os cursos de respiração. Eles atraem principalmente a turma que sempre aderiu alegremente a qualquer novidade na área do bem-estar. Mas têm incorporado também gente que nunca levou muita fé em nada que cheirasse a terapia alternativa. Foi por pura curiosidade que o empresário Robson Gouvêa, de 51 anos, procurou a Fundação Arte de Viver, uma das primeiras a oferecer esse tipo de curso. Isso foi em 2007. Gouvêa, que comanda a rede de magazines Leader, do Rio de Janeiro, gostou do resultado. Diz que sua grande conquista foi aprender a respirar fundo antes de tomar decisões importantes. Ele trabalha cerca de dez horas por dia. Para administrar o stress, joga tênis e pratica corrida. "A respiração passou a fazer parte da minha rotina de bem-estar", diz. A atriz Juliana Paes aderiu no ano passado, quando estava se preparando para viver a Maya de Caminho das Índias. "Eu estava muito ansiosa. Ia começar a novela e sabia que a pressão seria enorme. Aprender a respirar foi fundamental para enfrentar a empreitada com mais tranquilidade", diz Juliana, que, assim como a atriz Priscila Fantin, vê na qualidade do sono o maior benefício obtido com a prática. Em geral, quem faz regularmente exercícios respiratórios relata ter conquistado um precioso aliado para enfrentar o stress e a correria do dia a dia. A medicina confirma. "Vejo o controle respiratório como parte de uma estratégia de vida saudável, ao lado da alimentação balanceada e da atividade física regular", diz Bernardi.

Executiva de recursos humanos, a carioca Cristiane Edelman, hoje com 45 anos, não tem dúvida dos ganhos que obteve desde que incorporou o condicionamento respiratório ao seu cotidiano. Submetida à puxada rotina das consultorias internacionais, ela vivia entre voos e reuniões Brasil afora. Passou a sofrer os reflexos do stress e da ansiedade no corpo. Por duas vezes, chegou a parar no pronto-socorro. "Tinha formigamentos no rosto, achava que estava infartando, vivia com insônia, azia, e tinha rinite alérgica", conta. Cristiane só conseguiu dar um basta nesse mal-estar quando procurou uma terapeuta, cinco anos atrás, que lhe ensinou técnicas de respiração. "Minha qualidade de vida teve uma sensível melhora", diz.
Outra vertente em que as pesquisas constatam bons resultados do condicionamento respiratório é o controle da pressão arterial. Em 2002, o Food and Drug Administration (FDA), a agência americana que regula a venda de medicamentos, liberou um dispositivo chamado Resperate, uma espécie de walkman criado por médicos israelenses com o propósito de ditar o ritmo das inspirações e expirações. A prática de quinze minutos diários mostrou efeito significativo em estudos que abrangeram 507 hipertensos, todos sob orientação médica (veja o quadro). Após oito semanas, a redução média de pressão foi de 15 por 9 para 14 por 8. Em 10% dos casos a hipertensão desapareceu. Mesmo sem o aparelhinho, a física paulistana Elisa Wolynec, 68 anos, conseguiu idêntico resultado. Ela sempre levou uma vida saudável. Há cinco anos, descobriu que sua pressão estava alta. Começou a tomar medicação, mas teve uma série de efeitos colaterais desagradáveis e, em outubro de 2008, sob orientação médica, decidiu apostar na prática de exercícios de respiração lenta e profunda. Desde então, dedica quinze minutos todos os dias a eles, com muita disciplina. Aos poucos, o médico reduziu a dose de medicação e, desde janeiro, Elisa não toma comprimidos. Sua pressão chegava a 17 por 9 e estabilizou-se em 12 por 7. "Depois de dois ou três meses de prática, observa-se em alguns casos redução semelhante à que se consegue com remédios", diz Décio Mion, chefe da unidade de hipertensão do Hospital das Clínicas da USP, que no ano passado conduziu um estudo sobre o assunto com 27 hipertensos em grau leve.

Na Universidade Stanford, os exercícios respiratórios são vistos como uma ferramenta para enfrentar a dor crônica com menor grau de desconforto. "Eles permitem encarar crises com menos medicação. A dor crônica tem um fator emocional, que ativa o sistema simpático e, consequentemente, aumenta a tensão muscular. O controle da respiração permite que o corpo fique mais relaxado", explica o anestesista Ravi Prasad, diretor assistente da divisão de gerenciamento da dor em Stanford. Essa é uma área em que ainda não há estatísticas que confirmem a relação entre os exercícios e a melhora do quadro dos doentes. Mas as evidências são muito fortes, e há muitos estudos em andamento que permitirão medir adequadamente esse efeito. Não deverá levar muito tempo. Essa é uma fronteira promissora para a medicina nos próximos anos. Diz o cientista americano David Anderson, dos National Health Institutes, o órgão responsável por pesquisas e políticas públicas de saúde nos Estados Unidos, que coordena o maior estudo já feito no país sobre a relação entre respiração e saúde: "Estou convencido de que os padrões de respiração têm grande impacto até sobre o sistema imunológico".
Solidão é contagiosa como uma doença
Claudio R S Pucci

Um estudo conduzido conjuntamente pelas Universidades de Harvard, da Califórnia, e de Chicago, mostrou que pessoas solitárias costumam espalhar seu modo de encarar a vida a quem os cerca e que, após um tempo, esse grupo acaba se posicionando à margem da sociedade. Aparentemente o processo funciona, pois pessoas solitárias têm menos interações com os outros e só isso por si leva os outros a sentirem o mesmo.
Segundo o líder da pesquisa, Dr. John Cacioppo, existe um padrão de contágio da solidão que leva as pessoas a se afastarem da vida social e destruir até mesmo os poucos laços de amizade que restam. E mais: porque a solidão está associada a distúrbios mentais e físicos, que diminuem a expectativa de vida, é importante que as pessoas reconheçam esses efeitos e ajudem um solitário a não se afastar do grupo.
O estudo foi feito através da análise dos registros de cerca de 5mil pessoas na região de Farmingham em Massachussetts. A equipe criou gráficos que mostravam o histórico de amizade de um indivíduo e se ele apresentou sinais de solidão, e assim criou-se um padrão desta relação entre ele e seus poucos amigos. Também verificaram que mulheres, que são mais propensas a dar apoio emocional a alguém, eram as que mais facilmente se "infectavam". As conclusões foram mostradas na última edição do periódico médico Journal of Personality and Social Psychology.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Alimentação e Ansiedade

Princípios dietéticos
Muitas pessoas não se dão conta do importante papel que a seleção de alimentos pode desempenhar na intensificação ou na redução de sintomas de ansiedade, pânico e estresse excessivo. As pesquisas médicas nas áreas de dieta e nutrição, nos últimos trinta anos, demonstraram que muitos alimentos, bebidas e suplementos alimentares podem agravar ou desencadear sentimentos de ansiedade. Em contrapartida, outros estudos concluíram que certos alimentos são benéficos por suas propriedades calmantes e estabilizadoras do estado de ânimo ou humor.
Alimentos a serem evitados
Cafeína (café, chá preto, refrigerante à base de cola, etc.)A cafeína deflagra ansiedade e até sintomas de pânico porque exercita diretamente vários mecanismos de estimulação do corpo. Eleva o nível de noradrenalina do cérebro, um neurotransmissor que aumenta a vivacidade. Além disso, a cafeína estimula a descarga de hormônios do estresse, principalmente o cortisol, a partir da estimulação das glândulas supra-renais, intensificando ainda mais os sintomas de nervosismo e agitação.
Açúcar
Com o predomínio do açúcar simples em muitos alimentos, nossa sociedade acaba por produzir milhares de viciados em açúcar em todas as faixas etárias. A excessiva ingestão de açúcares pode ser um importante fator no surgimento de sintomas de ansiedade. A questão ocorre da seguinte forma: em vez de carboidratos complexos, os alimentos baseados em açúcares e farinha branca decompõem-se facilmente no tubo digestivo, assim, a glicose é liberada rapidamente na corrente sanguínea e daí absorvida pelas células do corpo a fim de satisfazer suas necessidades energéticas. Para dar conta dessa repentina sobrecarga, o pâncreas libera grandes quantidades de insulina – uma substância que realiza o transporte da glicose do sangue para dentro das células do corpo.A pessoa pode se sentir inicialmente eufórica, após ingerir açúcar, e depois sentir um rápido choque e um mergulho profundo em seu nível de energia. Quando o nível de açúcar no sangue fica demasiadamente baixo, a pessoa sente-se ansiosa, agitada e confusa porque o cérebro é privado do seu combustível maior. Para tentar remediar essa situação, as glândulas supra-renais liberam cortisol e outros hormônios que estimulam o fígado a liberar o açúcar que ele tem armazenado, de modo que o açúcar no sangue possa voltar aos níveis normais. O problema é que o cortisol, além de estimular a elevação dos níveis de açúcar no sangue, também aumenta, infelizmente, os sintomas de axcitação e ansiedade.
Álcool
O álcool é também um açúcar simples, por isso é rapidamente absorvido pelo organismo. Tal como os açúcares o álcool aumenta os sintomas de hipoglicemia, e o seu uso excessivo pode aumentar a ansiedade e as oscilações de humor.O sistema nervoso é particularmente suscetível aos efeitos deletérios do álcool, uma vez que esse atravessa facilmente a barreira de irrigação sanguinea do cérebro e destrói as células cerebrais. Em função disso, o álcool pode causar profundas mudanças comportamentais quando consumido em excesso. Os principais sintomas incluem a ansiedade, a depressão, os acessos irracionais de cólera, a baixa capacidade de julgamento, a perda de memória, vertigens e a coordenação motora deficiente.
Laticínios e Carnes Vermelhas
Devem fazer parte da dieta de forma moderada, uma vez que ambos os tipos alimentares são de digestão extremamente difícil para o organismo. Por essa razão podem agravar a depressão e a fadiga que coexistem em muitas pessoas com sintomas de ansiedade.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Síndrome do Intestino Irritável

O segundo cérebro


Reduzido à essência, o aparelho digestivo é um tubo no qual órgãos como fígado, pâncreas e glândulas salivares despejam secreções para ajudar a digestão e absorção dos nutrientes necessários para a manutenção das funções vitais.Como é essencial que os alimentos engolidos progridam no interior do sistema, a seleção natural elegeu mecanismos de alta complexidade para assegurar movimentos de contração e relaxamento da musculatura das paredes do tubo digestivo que conduzam o bolo alimentar até o meio externo. A eles damos o nome de ondas peristálticas.Uma extensa circuitaria de neurônios disposta ao longo do tubo, conectada com o cérebro e com a medula espinhal, controla o ritmo das ondas peristálticas. Hormônios e mais de trinta substâncias conhecidas como neurotransmissores ajudam a modular os impulsos nervosos que trafegam de um neurônio para outro, com a finalidade de fazer o ajuste fino dos movimentos de contração e relaxamento que dão origem e mantém as ondas.Esses mecanismos são tão eficazes que o aparelho digestivo pode realizar suas tarefas independentemente do sistema nervoso central. Nos traumatismos cranianos que interrompem as conexões nervosas do cérebro com o resto do corpo, todos os movimentos desaparecem, mas o aparelho digestivo continua a funcionar por conta própria, como se fosse dotado de um cérebro próprio.

A conexão serotonina
A coordenação precisa entre os sinais enviados pelos neurotransmissores e os impulsos nervosos que caminham de um neurônio para outro, garantem funcionamento harmonioso, rítmico, do aparelho digestivo.Quando os alimentos caem no estômago, ocorre liberação de hormônios e neurotransmissores que provocam o ato reflexo conhecido como reflexo gastrocólico, verdadeira ordem para que as alças intestinais se movimentem. Um dos neurotransmissores mais atuantes na transmissão de mensagens entre os neurônios do aparelho digestivo é a serotonina. Fatores que alteram a produção de serotonina, ou modificam as características dos receptores aos quais ela se liga, podem desorganizar os movimentos intestinais e causar constipação (prisão de ventre), diarréia, dispepsia (digestão difícil) e a síndrome do intestino irritável.

Constipação
Constipação é o termo científico correspondente à prisão de ventre, condição caracterizada pela diminuição da freqüência e/ou do volume das evacuações, desconforto ao evacuar e fezes endurecidas. Estudos mostram que 10% a 20% dos adultos se queixam de constipação. A incidência nas mulheres parece ser duas vezes maior.Há dois tipos de constipação crônica. O primeiro é caracterizado por lentidão do trânsito intestinal. No segundo, a freqüência das evacuações pode ser normal ou mesmo aumentada, mas o volume está reduzido e as fezes são difíceis de eliminar. Nos dois casos há sensação de esvaziamento incompleto do conteúdo intestinal. Existe uma tendência entre os gastroenterologistas de considerar a constipação crônica, como parte da chamada síndrome do intestino irritável.
SIR (síndrome do intestino irritável)Antigamente chamada de “colite nervosa”, nessa síndrome não encontramos alterações patológicas no intestino. A SIR é causada por alterações no mecanismo de sinalização mediado pela serotonina (e por outros neurotransmissores) e seus receptores, que desorganizam as ondas peristálticas modificando os hábitos intestinais.


1 - Formas de apresentação - classicamente, a SIR costuma ser subdividida em três grupos:1.1 – SIR com predomínio de constipação;1.2 – SIR com predomínio de diarréia;1.3 – Forma alternante, em que constipação e diarréia se alternam.Atualmente, a utilidade dessa classificação tem sido questionada porque a separação entre os grupos não é clara e são freqüentes os casos que se instalam com prisão de ventre e evoluem com diarréia, ou com alternância de diarréia e constipação.

2 - Diagnóstico - como não existem achados anatômicos responsáveis pelo aparecimento da SIR, o diagnóstico é feito clinicamente, depois que o médico ouviu as queixas, interpretou os sintomas, pediu exames e excluiu a possibilidade de patologias mais graves. É importante lembrar que sintomas como diarréia e constipação podem ocorrer no câncer de cólon e em doenças inflamatórias intestinais como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn, patologias que exigem a realização de colonoscopia, para visualizar o revestimento interno do intestino grosso.Vários critérios foram estabelecidos para ajudar os médicos a padronizar o diagnóstico. Para exemplificar, vamos citar os critérios Manning, estabelecidos em 1978, e os de Rome II publicado em 1999:


2.1 – Critérios de Manning
Dor abdominal aliviada ao evacuar;
Fezes amolecidas;
Evacuações mais freqüentes quando as dores se instalam;
Distensão abdominal;
Presença de muco nas fezes;
Sensação de que a evacuação foi incompleta.


2.2 – Critérios de Rome II
Pelo menos 12 semanas -- que não precisam ser consecutivas --, nos últimos 12 meses, de desconforto abdominal ou dores que tenham pelo menos duas das três características abaixo:
a) sensação de alívio ao evacuar e/ou b) instalação associada com mudança na freqüência das evacuações e/ou c) instalação associada à mudança no formato das fezes.
Vários autores, no entanto, sugerem que os médicos adotem uma definição mais abrangente: “desconforto abdominal associado a alterações dos hábitos intestinais”.


3 - Tratamento da SIR
Prisão de ventre, flatulência, desconforto abdominal, dor, diarréia, urgência para ir ao banheiro e dificuldade para evacuar, sintomas característicos da enfermidade, podem interferir com a qualidade de vida de seus portadores e exigir tratamento. Muitas vezes, os pacientes só procuram ajuda depois de tentativas infrutíferas de resolver o problema pelo uso crônico de laxantes, lavagens e de tratamentos caseiros inadequados.


4. - Medidas gerais e cuidados dietéticos - são aconselháveis em todos os casos: hidratação adequada, atividade física, alimentar-se em intervalos regulares e usar o banheiro num mesmo horário para estabelecer um ritmo diário, assim como evitar comidas picantes, muito salgadas, com excesso de condimentos ou conservantes, doces concentrados e alimentos que provocam gazes (feijão, grão de bico, repolho, etc.). Em certos casos é preciso cuidado com o leite (60% a 70% da população com mais de 60 anos apresenta algum nível de intolerância à lactose). As fibras devem ser selecionadas de acordo com a presença de diarréia ou constipação. As fibras solúveis, como as encontradas em polpas de frutas e alguns cereais ajudam a formar e compactar o bolo fecal. As insolúveis, presentes na casca das frutas, em alguns cereais e em todas as verduras, não têm o poder de compactar o bolo, e funcionam como laxantes.Embora sempre úteis essas medidas costumam ser insuficientes para controlar os sintomas: a maioria dos pacientes necessita de medicamentos. Os mais utilizados são:
Antiespasmódicos: Embora úteis para aliviar sintomas, as reações indesejáveis limitam seu uso. Devem ser empregados com cuidado nos casos de constipação;
Agentes que aumentam o bolo fecal: Os estudos mostram que os portadores da SIR nem sempre se beneficiam da adição de fibras a suas dietas. Em alguns casos, elas podem piorar a flatulência. Embora sua utilidade não tenha sido demonstrada na SIR, as fibras estão indicadas no tratamento da constipação;
c) Agentes antidiarréicos: Os estudos mostram que medicamentos como a loperamida são eficazes contra a diarréia, mas não melhoram os sintomas nem as dores abdominais da SIR. Portanto, não devem ser usados se houver constipação;
Antidepressivos tricíclicos: Como os portadores de SIR sentem mais dor do que o normal quando o intestino se distende, e esse grupo de drogas interfere com a transmissão do estímulo doloroso, alguns trabalhos procuraram avaliar sua eficácia. Os resultados não foram suficientemente significantes para recomendar seu emprego na síndrome, mas há evidências de que possam melhorar as dores. Estão contraindicados em quadros de constipação porque podem agravá-los.
Antagonistas do receptor 5HT3 da serotonina: usados para inibir as náuseas provocadas pela quimioterapia do câncer. Esses agentes diminuem a sensação de desconforto causada pela distensão do cólon e retardam o trânsito intestinal. Estão indicados apenas nos casos de diarréia;
Agonistas do receptor 5HT4 da serotonina: O único medicamento desse grupo, aprovado para uso é o tegaserod. Esse agente estimula o reflexo peristáltico, acelera o trânsito intestinal, reduz as descargas elétricas dos neurônios que conduzem estímulos nervosos para o reto e reduz a sensibilidade abdominal. Seu uso durante 12 semanas, seguidas de reavaliação clínica, e administração por períodos mais longos, se houver resposta favorável, é considerado tratamento de escolha não apenas nos casos de SIR com constipação, mas também na constipação crônica.


5 -Conclusões - não vai longe o tempo em que a síndrome do intestino irritável era interpretada como simples distúrbio alimentar, provocado pelo estresse em pessoas nervosas. Hoje sabemos que se trata de uma doença crônica, causada por alterações de hormônios e neurotransmissores que modulam os movimentos peristálticos. Seu tratamento exige cuidados dietéticos, orientação médica e medicamentos de uso prolongado para controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

Drauzio Varella